a história dos olhos

,os olhos soltaram
para fora das órbitas
e ficaram planando
no escuro vértice do espaço
como dois papagaios
astronautas
sem rumo

até que os olhos
tão perdidinhos
solitários
e pequenos
encontraram-se
com a retina
pobre da retina
recata
retraída
expulsa pra fora de casa
pelo marido
por não fazer direito
o tal do boquete
pobre da retina

e assim casaram-se
olhos retinas
retinas e olhos
cerraram-se num longo beijo
de amor,

poeminha literal

,Os olhos deslocaram-se da retina

E viajaram na velocidade da luz

Envolveram-se em um tragicômico acidente

Onde todos riram e choraram ao mesmo tempo

Pois também pudera o momento

Era dicotômico e a faca de dois gumes

Se pôs a rememorar seus momentos gloriosos

Em que salames eram cortados

Na mesma profusão que os sentimentos

De repente fez-se um dia quente

E irromperam no céu trovoadas de carcarás

Dispostos a cerrarem num longo e silencioso beijo noturno

O céu vermelho de arrebol

Que iluminava o sertão

Tratava-se de um romance

De Joãozinho Guimarães Rosa

Botando pra quebrar

Na cena literária da época,

a marmota

,certo dia esquentando minha marmita

dei de cara com a marmota

isto são horas?

Indaguei à amora

Que de boba não tem nada

Apenas é uma senhora

Resignada de suas atribuições frutíferas

Muita sábia, respondeu-me que a marmota

Nunca tem hora certa de aparecer

Gosta de furtar comida alheia

Do laboro diário

De preferência requentada

Num tupperware bonitinho

Que depois leva pra casa

Como quem não quer nada

Como é safada essa marmota!,