terça-feira, 26 de julho de 2011

acabou em gilberto gil começou no samba

,o som da cuíca
interrompe
a noite
e o sono
dos sambistas
da vila piedade
lugar algum
nenhum
vai criticar
a grande comunidade
da piedade
de ter feito som
barulho
na madrugada
lugarzinho quente
abafado
que esconde o amor
no silencio do sexo
no barulho
da dança que se faz
antes e depois
da comunhão carnal
o samba
nasceu no terreiro
do amor dos santos
guerreiros
nasceu do sangue
de quem toca o tambor
o atabaque e o agogô
o amor
nasceu do samba
morreu na contramão
do efisema pulmonar
da catarse ultrasemântica
das epístolas direcionadas
aos amores expressos 2222,

o que tem pra hoje: miles davis

,são noves para as dez
e miles davis continua impressionando
aqueles impressionáveis
figurões
da platéia
ele toca silencioso
num ritmo tempestuoso
ouvindo cada instrumento
como se fosse parte
de seu trompete
que dança
cadenciado
comanda
aqueles que estão a sua volta
miles davis não se importa
com pouca bosta
que se faz da vida
ele apenas segue
aquilo que é
dito
reedito
musicado
em apenas poucas palavras
as falas
vão se entrechocando
numa comunhão de bens
de fins
de lucros
de mensagens pornograficas
pelo celular
pelas celulas
do organismo corpo
multicelular
multiatarefado
em seus multiplas tarefas
de conferir prazer
de conferir a dor
que crava a pele
com dó
e com piedade
de pedir um beijo
de pedir um carinho
sem unhas
um golpe
sem violência
um membro que rola pelo quarto
sem sangue algum
nenhum pra botar defeito
esse é miles davis
ali na esquina
cantam algo dele,

sábado, 16 de julho de 2011

cagar

,o mundo descompensado
desregulado
caiu num abismo
que não tinha fim
lá de dentro da cartola
do abismo
saltou um coelho
dentuço
canibal
que começou a comer todos os indios
do planeta
então mataram-se todos os pajés
pagems e criancinhas
e abriram-se crateras
com feridas de machucado
me múmias embalsamadas
vampiros saídos de um filme
de quentin tarantino
deram risadas
soltaram gargalhadas
dispararam as trompetas
que anunciavam
as horas do planeta
eu mergulhei
e alcancei o ponteiro dos minutos
os segundos se foram
as horas se esvaziaram
feito peixe doce em mar salgado
hoje eu me resumo em 60
o tempo que eu demoro
para cagar,

segunda-feira, 11 de julho de 2011

o vôo

,parado no tráfego
me despedaço
em três
colheres de pau
amasso o brigadeiro
derretido
encosto em uma borboleta
que flutua
no cyberespaço
da minha casa
afogo em um copo
descartável
com bocas pintadas
de um baton vermelho
aí eu beijo
e me lambuzo
do abuso
de ser você
e de ter você
de ser
nós dois
embrenhados
nessa triste colher de pau
psicodelicamente light,

quarta-feira, 6 de julho de 2011

animalesco

,carrego dentro de mim
um asno
que aos poucos vai se mostrando
um verdadeiro cedro
inteligente
magnanimo
incrivelmente sedutor
com suas arestas
chapeu de tres pontas
acordando todo mundo
com uma buzininha muito louca
carrego dentro de mim
um animal
prestes a ser solto
exilado
em qualquer canto do mundo,

terça-feira, 5 de julho de 2011

extra extra

,fiquei sabendo
que pelas bandas do norte
um barco foi multado
por transportar laranjas-lima
no rio solimões,